quarta-feira, 15 de setembro de 2010

O adeus que eu não quero dar

Às vezes as pessoas simplesmente vão embora das nossas vidas. E o que nós podemos fazer? Aprender a deixar, né...
Quem dera fosse tão fácil. É difícil ver quem a gente gosta batendo as portas do nosso próprio coração na nossa cara. Mas é preciso deixá-las ir, sem medo de ser feliz depois, porque o ser humano está sempre apto a se renovar. A dor parece insuportável no começo, e é. Mas depois todos nós nos acostumamos com ela ali. E minha amiga, não se iluda, ela estará sempre lá, doendo insuportavelmente, mas a gente acostuma. E a cada vez que você se lembrar da partida, seu coração irá se despedaçar como só vidros duralex sabem fazer: em dois mil e seiscentos pedacinhos bem pequenos. Mas a vida segue. E é da pior maneira que uma vida pode seguir: sem o amor que estava ali há segundos. E sempre serão segundos, por que parece que o tempo não passou quando você se lembra.
Deixar ir embora quem quer ir embora é mais fácil, você arruma outro alguém e põe no lugar antes que se possa dizer tchau. Não no começo, por que quase todo começo é difícil. Quantas pessoas não levaram um pé na bunda e estão aí felizes e serelepes com outro alguém ou mesmo sozinhas? Pode ser até saudável. Mas e quando, assim como você não quer que ela vá, a pessoa também não escolheu te deixar? Aí sim é dor, aí sim é choro, meus queridos. Aí é aprender a viver pra SEMPRE com aquele buraco negro bem no meio do peito, aquele que rouba seu ar cada vez que você revive a separação forçada. Aí não tem jeito, é sofrer e deixar diminuir mesmo. É levar a dor com você estampada na cara por onde você for. É aprender a segurar lágrimas que você não sabe de onde surgiram a cada vez que você ouvir o nome, sentir o cheiro, acordar e perceber que não é mentira, ir dormir e só pensar na solidão, se olhar no espelho e se descobrir mais velha pelo sofrimento, ouvir perguntas, ter que dar respostas que você não tem ou se pegar querendo telefonar pra pessoa pra contar uma novidade. Esse é o problema da morte... não é como terminar um namoro, o que sempre deixa uma pontinha de esperança de algum lado, é saber que nunca mais, por mais que você chore e esperneie, a pessoa voltará. E não adianta dizer que ela estará para sempre com você, em seu coração. Até que aprendemos a perceber isso, muita água já rolou.
Mas então a dor vai se transformando num sentimento lindo, precioso e sofrido, o amor eterno. Pra sempre, não adianta. Você pode ter outra amiga, outra avó, outro namorado, outro qualquer coisa, mas nunca, por mais que você tente, será a mesma pessoa (e você vai tentar centenas de vezes até perceber a unidade de cada ser). Nunca será do mesmo jeito e nunca, mas NUNCA mesmo, você vai esquecer. Vai por mim, eu sei muito bem do que estou falando.
E você vai querer ir junto, vai perder seu chão uma infinidade de vezes até descobrir como criá-lo sozinha, vai chorar em silêncio, aos prantos, aos berros, vai se questionar e vai, especialmente, questionar a sabedoria de Deus. Por que se você ainda não aprendeu a acreditar nele de alguma forma, depois de perder alguém é quase impossível não acreditar. Mas Deus sabe, gente. É melhor acreditar que ele sabe por que aí nós temos uma desculpa, uma certeza. Deus está em todos os lugares, não sei como, mas está. É Ele que vai recobrar suas forças, que vai te ensinar a dormir de novo, que vai te dar um novo rumo na vida. Por que sozinhos nós jamais conseguiríamos. Somos seres fracos, desprovidos da habilidade de perder e uma perda assim é desumana. Perder pra morte é assinar atestado de incompetência, por que é saber que não se tem nada pra fazer. E quer uma sugestão? Não faça nada mesmo não. Nem tenta entender, por que não tem explicação.
E eu não tenho uma fórmula, um segredo pra passar por tantas perdas e ainda me manter em pé. Fui aprendendo com a tristeza e quando vi estava aqui, bem menos firme, e não tão forte. É hora de ser fraco mesmo, de pedir ajuda, de se descabelar. Mas vai passar, vai diminuir, pode ter certeza. Depois tem a saudade, o aprendizado e a habilidade de ouvir a pessoa que sobreviveu dentro de você depois da morte. E então chegam as lembranças (ainda) doloridas, porém mais bonitas e que te arrancam um sorriso de canto de boca, por que são boas. É bom ter o que lembrar, ter coisas boas pra lembrar. E até as brigas ficam boas. Por isso é tão importante aproveitar os minutos com quem se ama. Por que eles passam e você nem vê. E você vai vivendo, com uma certeza absurda de que vocês irão se reencontrar um dia. Outras pessoas passam por nós, mas aquelas que se foram nunca serão esquecidas. Algumas doerão bem menos que outras. No lugar de algumas você aprenderá a amar outras de um jeito diferente, mas sincero e sempre intenso por que você aprenderá a efemeridade da vida. E o amor de namorado passa a amor de amigo e outro entra no lugar de namorado e você aprende a se lembrar menos. Só o amor por pais e avós não será substituído nunca e por isso doerá bem mais de acordo com a proximidade que vocês tinham antes.
E você pede infinitamente que chegue logo o reencontro pra dar aquele abraço que ficou faltando, o beijo que se perdeu e, finalmente, chorar novamente. Mas, dessa vez, de felicidade.

Só tem um problema... não vai sumir nunca, por mais que você queira. Mas você não vai querer.

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